Outro dia eu estava escrevendo um texto sobre como o tempo está passando tão rápido, e me peguei refletindo que, por mais que eu tenha tentado aproveitar ao máximo esses últimos meses, ainda me sentia meio vazio, como se faltasse alguma coisa. Como se todo mundo ainda tivesse vivido mais que eu. Viajado mais, saído mais, sentido mais. E aí eu comecei a cavar mais fundo. Tentar entender de onde vinha essa sensação.
E foi aí que percebi que, por muito tempo, eu dizia não pra tudo.
Não era um "não" rebelde, daqueles que querem contrariar o mundo. Era um “não” silencioso, quase automático. Um "não" que parecia proteção, mas no fundo era um pouco de medo. Medo de sair da rotina, medo do incômodo, medo de me perder no inesperado.
Sempre fui uma pessoa mais quieta, mais reservada. Gostava (e ainda gosto) da paz de casa, do meu canto, da minha companhia. Mas com o tempo, acho que isso começou a virar uma "prisão" disfarçada de conforto. Porque eu comecei a recusar tudo. Qualquer convite parecia não valer a pena.
“— Vamos no mercado com a gente?”
“— Vai ter um jantar em família hoje, bora?”
“— Quer jogar um futebol hoje?”
E lá vinha eu: inventando desculpas, alegando cansaço, dizendo que tinha que estudar, ou que o tempo tava ruim. E depois, ficava naquela sensação estranha. Aquela mistura de alívio e arrependimento. Do tipo: "ainda bem que não fui" — mas, no fundo, "poxa, talvez teria sido legal."
Teve uma vez que minha prima me chamou pra ir numa trilha com o pessoal da faculdade dela. Eu quase fui. Quase. Mas na última hora, inventei que estava passando mal. Eles foram, tiraram fotos incríveis, e no final ainda encontraram um senhor no topo da trilha que tocava violão e ofereceu café feito na hora. Uma daquelas histórias que você não tem como viver se estiver dentro do seu quarto. E eu fiquei vendo tudo pelo Instagram, enquanto comia pão com manteiga olhando pro ventilador.
Eu percebi que, durante anos, vivi assim, fechado e apenas observando. Esperando as experiências caírem no meu colo, sem precisar levantar da cadeira. E aí, quando via as pessoas contando histórias, ou postando momentos marcantes, eu pensava:
"Como elas têm tempo pra tanta coisa?"
Mas elas não tinham tempo a mais que eu. Elas na verdade tinham disposição, diziam sim.
E esse era exatamente o meu erro. Eu dizia não pra vida. Não pras coisas simples. Não pras possibilidades. Não pras pessoas. Até que o tempo começou a me dar um leve empurrão no ombro. Tipo: "ei, você vai continuar esperando?"
Quantas vezes você recusou algo que talvez mudasse o seu dia — ou quem sabe, a sua vida? E se aquele 'não' que você disse ontem fosse, na verdade, um 'sim' que o mundo estava esperando?
Até que um dia eu assisti Sim, Senhor.
É um daqueles filmes que você pega despretensiosamente, achando que vai só dar umas risadas. Mas aí, sem querer, ele te dá um soco existencial disfarçado de comédia.
No filme, o Jim Carrey vive um cara que basicamente parou de viver. Ele tá ali, só existindo. Recusa convites, ignora ligações, inventa desculpas pra tudo. Parece só um personagem engraçado, mas é impossível não se ver um pouco nele. Porque, de algum jeito, todo mundo já viveu naquela frequência morna. Nem quente, nem fria. Nem feliz, nem triste. Só… sobrevivendo.
Aqui vai um trecho de um diálogo que conta uma verdade "dolorida" do protagonista:
“— Você está morto, Carl. Você diz não para a vida, e assim você não está vivendo.
Você inventa desculpas para as pessoas à sua volta, e para você mesmo.
Você está estagnado no mesmo emprego sem futuro faz tempo, e isso faz anos.
Você não tem uma namorada, nada parecido com uma namorada.
E você perdeu seu grande amor porque ela não podia ficar com quem não vive nem a própria vida”
Depois de ouvir isso, ele resolve fazer parte do "clube do sim". Um lugar onde a regra é simples: dizer “sim” pra tudo. Sem filtro, sem medo.
No começo, parece loucura. E é mesmo. Ele começa a dizer sim pra coisas totalmente aleatórias — aprender a pilotar avião, ter aulas de coreano, ir a lugares onde ele nunca pensaria em pisar.
Mas aos poucos, aquele “sim” começa a mudar tudo. A vida dele, que era meio cinza, começa a ganhar cor. Pessoas novas aparecem. Experiências aparecem. O acaso, finalmente, tem espaço pra entrar.
E é aí que o filme te pega. Porque ele te mostra que o sim, por mais bobo que pareça, é uma chave. Não uma chave mágica, que resolve tudo com glitter e final feliz. Mas uma chave que destranca portas que a gente nem sabia que estavam trancadas.
Tipo aquele “sim” que você dá pra um convite simples e acaba fazendo uma amizade nova. Ou aquele “sim” pra uma oportunidade fora da sua zona de conforto e que, do nada, te leva pra um caminho que você nunca imaginou.
Tem gente que conheceu o amor da vida indo num aniversário que nem queria ir. Tem gente que descobriu a profissão dos sonhos dizendo “sim” pra um favor. Tem gente que mudou tudo porque disse “sim” pra uma ideia maluca às duas da manhã.
Claro que o filme exagera um pouco — ninguém precisa sair dizendo sim pra absolutamente tudo. Mas ele mostra, de um jeito leve, uma verdade que a gente finge não ver: a vida só acontece pra quem se dispõe a viver.
A gente acha que precisa de motivação, de dinheiro, de timing perfeito… quando, na real, muitas vezes só falta dizer “tá bom, eu vou”.
Quando o “sim” muda o rumo da vida
Dias desses, um amigo me chamou pra caminhar no fim da tarde, por volta das 18:30. Eu estava cansado, com dor de cabeça, e já tinha uns dez argumentos prontos pra recusar com classe. Aqueles “pô, valeu o convite, mas hoje não vai dar” que a gente fala pra se livrar sem parecer mal-educado.
Mas aí, não sei por quê, eu resolvi ir. Mesmo desconfortável, mesmo achando que não ia render em nada… eu disse sim.
E o resultado? A gente teve uma das conversas mais boas que eu já tive nos últimos tempos. Falamos sobre a vida, sobre coisas engraçadas, lembranças antigas, planos. Caminhamos mais do que o combinado, o sol se pondo lá no fundo, e eu ali, no meio de um momento que nem teria existido se eu tivesse dado ouvidos ao cansaço.
Foi ali que eu percebi de novo: o sim pode ser simples, mas o que ele abre nem sempre é.
Outro exemplo? Quando eu decidi começar a tocar violão. Eu estava cheio de inseguranças. Aquela voz interna dizendo: “é tarde pra isso”, “você vai passar vergonha”, “não vai durar duas aulas”. Fora a vergonha de chegar na primeira aula, sem saber nem segurar o instrumento direito.
Mas, mesmo assim, eu fui. Eu disse sim.
Hoje, não sou nenhum expert, mas me apaixonei pelo instrumento. Me pego tocando no fim do dia, aprendendo músicas que sempre admirei, com uma alegria que vem do simples fato de ter começado. De ter aceitado tentar. De não ter deixado o medo vencer.
É isso que muita gente não entende: dizer sim pra vida não é sair aceitando tudo feito doido. Não é virar refém de cada convite ou proposta. Mas é estar aberto ao que parece bom — mesmo que um pouco incerto. É dar chance pro novo, mesmo que ele te assuste no começo. Porque é justamente aí que moram as melhores histórias. As melhores conexões. Os começos mais inesperados.
“Quando você diz sim para a vida, a vida diz sim para você.”
— Robin Sharma
A gente não precisa de uma vida perfeita. Só precisa começar a viver. E às vezes, tudo o que isso exige... é um simples sim.
Nossa, escrevi um note sobre o poder do “sim” e do “não” poucos dias atrás.
Estava mais defendendo o “não”, por ser uma pessoa que tem dificuldade de colocar limite ao outro.
Mas, pelo lado de viver experiências, é o “sim” que as abre, com certeza!
Também estou aprendendo a dizer mais sim para a vida .