Toda Escolha é a Escolha Certa
Durante boa parte da minha vida, fui alguém muito indeciso. E essa indecisão fazia parecer que, não importa o que eu escolhesse, eu sempre acabava achando que tinha tomado a decisão errada.
Lembro quando juntei dinheiro pra comprar o meu primeiro celular, passei um tempo pra juntar o dinheiro, pesquisei as melhores opções do momento, e comprei. Mas, depois disso, vi meu amigo com um diferente, era uma marca nova, ele tinha pagado mais barato que eu, e ainda, o dele vinha com o dobro de recursos. Aquilo me martelou bastante, caramba, eu demorei tanto pra juntar esse dinheiro, e agora, meu amigo com menos dinheiro escolheu um bem melhor.
— Como eu posso sempre tomar as piores escolhas?
E se fosse só isso tudo bem, mas não. Eu me sentia assim o tempo todo, com qualquer escolha que desse minimamente "errada".
Quando a indecisão toma conta
Desde criança, qualquer cardápio virava um campo de batalha. Lembro de uma noite em específico, num restaurante simples com os amigos, o garçom se aproximou e eu decidi: "— Vou de pizza."
Logo depois, enquanto esperava, bateu um leve arrependimento. Olhei pro lado e vi um amigo com um hambúrguer imenso, suculento, cheio de queijo derretido e bacon crocante. Aquela imagem mexeu comigo.
"Devia ter pedido o hambúrguer", pensei. "A pizza é boa, mas aquele hambúrguer…"
Quando a pizza chegou, o cheiro era incrível, o queijo puxava, o molho era caseiro. Ainda assim, eu comia pensando no hambúrguer. Mal saboreava o que estava na minha frente. Só pensava no que poderia estar comendo.
No fim do jantar, meu amigo limpou a boca, olhou pra minha pizza e soltou:
— Cara, devia ter pedido a pizza. Olha isso. O hambúrguer tava bom, mas tua pizza parece sensacional.
Sorri por fora, mas por dentro dei risada. Se tivesse escolhido o hambúrguer, estaria olhando pra pizza com o mesmo arrependimento. E naquele momento cheguei a uma conclusão:
De fato o Hambúrguer dele era melhor que a pizza? Provavelmente não.
É apenas eu mesmo, duvidando das minhas próprias escolhas, por achar que a dos outros é sempre a melhor.
Quantas vezes eu não fazia isso na vida? Escolhia um caminho e ficava olhando pro outro. Não por ele ser melhor, mas só porque… era outro.
E isso, não é só sobre comida ou restaurantes. É sobre tudo da vida, refletindo em cada uma das áreas dela:
Estilos de vida
Você decide morar sozinho numa cidade tranquila, mas vê amigos viajando o mundo ou vivendo em cidades grandes com muito movimento. E começa a pensar: “Será que minha vida está parada demais?”
Em projetos pessoais ou criativos
Você escolhe começar algo do zero — um canal, uma marca, uma newsletter — e vê outras pessoas viralizando, crescendo rápido, enquanto você ainda está no começo. Surge o pensamento: “Será que eu devia ter feito algo mais seguro ou mais ‘comercial’?”
Nas nossas escolhas profissionais ou de cursos:
Você entra numa faculdade ou começa num emprego novo, mas vê um amigo indo bem em outra área, ganhando bem ou postando conquistas. A dúvida aparece: “Será que eu devia ter seguido aquilo também?”
Curiosidade: Segundo dados do Inep, cerca de 30% dos estudantes abandonam a graduação antes de concluir o curso. E mesmo entre os que se formam, um estudo do Instituto Semesp mostrou que quase 1 em cada 3 profissionais (30,6%) acaba trabalhando fora da área de formação, seja por falta de oportunidade, mudança de interesse ou outro rumo de vida.
Todas essas são situações básicas já aconteceram comigo, e muito provavelmente, com você também. E isso tudo se resume em só uma palavra:
Duvidar das próprias escolhas.
Se arrepender antecipadamente por algo que poderia ter sido feito diferente.
Pare um pouco e tente olhar isso por fora, com clareza — Você percebe? Tudo isso só mostra que você ainda não tem confiança em si mesmo o suficiente.
"Escolha, e você se perguntará se deveria ter escolhido outra coisa. Não escolha, e se perguntará como teria sido se tivesse escolhido. Agir ou não agir - o arrependimento encontra um jeito de entrar."
Lembro de um amigo distante meu, que ficou meses decidindo entre dois cursos. Direito ou Design. Enquanto isso, o restante do grupo já havia começado as aulas, feito contatos, e aprendido coisas novas. Quando ele finalmente escolheu, percebeu que o tempo que passou parado não serviu pra “pensar melhor”, só pra adiar a vida.
O problema de ficar parado é que o mundo não para com você.
"A única maneira de não cometer erros é fazendo nada. Este, no entanto, é certamente um dos maiores erros que se poderia cometer em toda uma existência."
— Confúcio
Por que sentimos tanta pressão para fazer sempre a escolha perfeita?
Porque, desde cedo, somos ensinados que o futuro depende disso.
"— Escolha o curso certo, ou vai se arrepender."
"— Invista na carreira certa, ou vai perder tempo."
"— Encontre o parceiro ideal, ou sua vida será um desastre emocional."
Essa lógica parece fazer sentido. Afinal, todo mundo conhece alguém que fez "as escolhas certas" — o cara que fez Medicina e hoje ganha bem, a menina que largou tudo pra empreender e agora mora fora, o amigo que casou com alguém incrível e parece viver um conto de fadas.
Esses exemplos viram propaganda. E sem perceber, a gente começa a viver com medo de errar. Como se cada escolha fosse um ponto sem volta. Como se o mundo tivesse uma rota perfeita escondida — e a gente tivesse que adivinhar qual é.
Você começa a não escolher o que te move, mas o que parece ser "seguro", "respeitável", "apropriado".
Mas aqui vai uma verdade desconfortável e libertadora:
Nenhuma escolha é perfeita. Afinal, ninguém te conta que o cara da Medicina talvez trocaria tudo por paz. Que a empreendedora talvez esteja cansada. Ou que o conto de fadas do casamento tem capítulos difíceis.
Não é sobre ignorar consequências. É sobre parar de viver tentando montar o “currículo ideal da vida” e começar a viver com mais verdade.
A pressão de escolher o 'melhor' não é só injusta — é ilusória. A vida nunca esteve totalmente nas nossas mãos.
Então, Toda Escolha é a Escolha Certa
No fim… todas as escolhas que você fez te trouxeram até aqui. Cada sim, cada não, cada medo que te parou, cada coragem que te empurrou mesmo sem direção. Até os erros que você tenta esquecer, até os acertos que você não soube reconhecer — tudo isso faz parte de quem você é hoje.
— Não existe escolha errada. Você fez o melhor que podia com o que sabia e sentia naquele momento.
Talvez o que você mais precise agora não seja uma nova escolha.
Mas sim um pouco de perdão por tudo aquilo que você ainda se culpa por ter feito.
Não deixe que o medo de tomar uma decisão incerta te impeça de sentir, de arriscar e, acima de tudo, de viver.
Bernardo, que texto imprescindível.
Tem uma calma nele que não mascara a dor, mas abraça a dúvida com honestidade.
O jeito como você narra suas indecisões não é frágil, é humano, é o tipo de verdade que muitos sentem, mas poucos conseguem nomear ou param para refletir sobre.
Esse ponto que você trouxe me atravessa especialmente:
"Talvez o que você mais precise agora não seja uma nova escolha. Mas sim um pouco de perdão por tudo aquilo que você ainda se culpa por ter feito."
Sim, às vezes, o que paralisa não é o medo do próximo passo, é o peso não digerido do passo anterior.
Tenho refletido sobre isso também. Publiquei dois textos que talvez conversem com o que você trouxe aqui.
Um se chama "Da adolescência aos 40", e fala sobre o tempo e os desvios que, no fim, formam nossa estrada.
https://alexlimad40.substack.com/p/da-adolescencia-aos-4o?r=5gdkrl
O outro, "Rascunhos de mim", é sobre a delicadeza de se aceitar em processo, mesmo quando tudo em volta exige finalização e certeza.
https://alexlimad40.substack.com/p/rascunhos-de-mim?r=5gdkrl
Se fizer sentido, te convido a ler.
E, de verdade, parabéns pelo seu texto e obrigado por esse lembrete de que toda escolha feita com o coração já é, de algum modo, a escolha certa.
Abraço,🍂
Ale
Salvei para ler e reler muitas vezes!