Esses dias navegando pela internet, ouvi uma frase que me marcou de um jeito diferente:
"O barulho é a fuga preferida de quem tem medo de se escutar."
Desde então, essa frase não saiu da minha cabeça. Comecei a observar meus hábitos e, aos poucos, percebi o quanto minha vida estava, na verdade, sendo uma fuga constante do silêncio — e, por consequência, de mim mesmo.
Toda vez que ficava sozinho em casa, ligava a TV. Não para assistir, mas para preencher o ar com algum som. Como se o barulho tornasse o espaço mais habitável, menos vazio. Como se o silêncio gritasse algo que eu não queria ouvir.
No banho? música, sempre. Na hora de comer, qualquer coisa servia: um vídeo no celular, uma reportagem na TV, até o som de alguém falando sobre algo que eu nem prestava atenção. Ficar em silêncio era desconfortável — parecia errado.
Esse padrão foi crescendo. Sem que eu percebesse, comecei a me sentir mais ansioso, inquieto, mentalmente exausto. Minhas ideias já não fluíam como antes. Eu me sentia desconectado — não do mundo, mas de mim.
Passei a perceber que não caminhava sem fones de ouvido há meses. Como se o som, o ruído constante, tivesse se tornado uma espécie de companhia.
Teve uma época em que eu não conseguia dormir no escuro e no silêncio. Literalmente. O quarto precisava estar com a luz do abajur acesa e algum vídeo rodando no celular — mesmo que eu não estivesse vendo. Era como se o barulho fosse uma espécie de companhia, e o silêncio, um lembrete de tudo que eu não queria pensar antes de dormir.
No começo, eu achava que era só um costume bobo. Mas comecei a perceber que, se por acaso a bateria acabasse, ou a internet caísse, eu travava. Meu peito apertava, a mente disparava, e em poucos minutos eu estava sendo engolido por uma inquietação que não sabia de onde vinha. Era como se o silêncio abrisse uma porta que eu passava o dia inteiro tentando manter trancada.
O cansaço de quem nunca se deixa em paz
A pessoa acorda e já coloca um vídeo, uma música ou um podcast. Vai trabalhar com fones, volta rolando o feed, dorme com um vídeo de fundo. Isso esconde uma ansiedade silenciosa: o medo de ficar a sós com os próprios pensamentos. A mente nunca descansa, e com o tempo, isso gera esgotamento mental, dificuldade de concentração e um vazio que nenhuma distração preenche.
A neurociência mostra que viver imerso em estímulos constantes sobrecarrega o cérebro, especialmente o córtex pré-frontal, dificultando a concentração e a tomada de decisões. Quando não damos pausas ao cérebro, ele não ativa o "modo descanso", necessário para criatividade, reflexão e autoconhecimento. A falta de silêncio também alimenta a ansiedade e o estresse, fazendo com que o cérebro fique em um estado constante de alerta, viciado em recompensas rápidas. Além disso, o cérebro perde sua capacidade de adaptação e aprendizado, e a desconexão interna se torna mais forte, gerando sensação de vazio e procrastinação emocional.
Muita gente evita o silêncio porque sabe que, no fundo, ele traz verdades. Pode ser um relacionamento que não faz mais sentido, um trabalho que sufoca ou uma vida que segue no piloto automático. Fugir disso faz a pessoa viver desconectada de si mesma, e essa desconexão é uma das raízes da depressão.
Não se escutar, não conseguir ouvir seu próprio silêncio, é a prova de que você tem medo de si mesmo.
E não é exagero. O silêncio, ao contrário do que muita gente pensa, não é vazio. Ele é como um espelho. É nele que tudo que você tem evitado aparece com mais nitidez. As dúvidas, os medos, as dores não resolvidas, os pensamentos que você empurra para depois. Quando você evita o silêncio, o que você está fazendo, no fundo, é evitar se encarar.
É por isso que tanta gente vive no automático: acorda com música, trabalha com barulho, dorme com um vídeo tocando. A mente vai sendo preenchida com estímulos que parecem inofensivos, mas que, somados, formam uma espécie de escudo contra qualquer tipo de introspecção. E isso, com o tempo, cobra um preço alto.
Você começa a sentir uma ansiedade constante, mesmo quando “está tudo bem”.
Sente um cansaço que o sono não resolve. Tem a sensação de estar sempre correndo, mesmo parado. Por quê? Porque sua mente não descansa. Ela está sempre lutando para ignorar uma verdade que só se revela no silêncio: a verdade de quem você realmente é e do que você realmente sente.
E quanto mais você foge, mais pesado tudo fica. A vida vai acumulando questões não resolvidas, mágoas não digeridas, escolhas não pensadas. Você vai deixando de ser protagonista e vira espectador da própria existência.
"Quem foge do silêncio corre o risco de nunca ouvir o próprio grito por socorro."
Quando o barulho some, sua verdade aparece
No começo, ficar em silêncio é assustador. É como encarar um espelho depois de anos com as luzes apagadas. Mas, aos poucos, você percebe: não é um inimigo. É um lar. Um lugar onde sua voz não precisa gritar pra existir.
Longe dos estímulos, a vida muda de ritmo. Você começa a ouvir coisas que antes passavam despercebidas — não fora, mas dentro. Aquele pensamento que sempre evitou, agora fala com calma. Aquela ideia que você achava boba, agora parece genial. O cansaço deixa de ser um ruído constante e se torna um convite ao descanso, não à culpa.
Muita gente só muda depois que o barulho consome tudo. Mas os que têm coragem de se escutar antes, encontram paz antes:
A mulher que largou o celular por um mês e descobriu que não precisava da validação de ninguém;
O rapaz que foi pra uma cidade pequena por uma semana e voltou com o coração limpo;
A menina que escreveu todos os dias por trinta minutos, sem postar, e reencontrou sua essência;
São histórias comuns, mas com efeitos extraordinários. Porque quando você para, o mundo continua. E é aí que percebe que o que mais importa… sempre esteve em silêncio, esperando você ouvir.
Então, eu te convido a ficar em silêncio
Isso não significa você ficar meditando o dia todo, ou parado sem fazer “nada” por assim dizer. Mas sim, fazer as coisas básicas do seu dia, sem estar cheio de estímulos a toda hora.
Ouvir uma música relaxante é boa, eu sou apaixonado pela cultura musical. Mas usar música toda vez que você sai caminhar ou vá simplesmente tomar um banho, é algo que limita o seu cérebro e a sua criatividade.
As melhoras ideias que eu já tive na minha vida, vieram ou de uma caminhada silenciosa, ou de um banho quente reflexivo, no silêncio.
Começar a praticar o silêncio com poucos minutos já ajuda. Pode ser, por exemplo, enquanto toma um café ou em uma caminhada tranquila. O segredo é não forçar, só estar presente com seus pensamentos.
Sabe aquele turbilhão de ideias? Eles vão aparecer, e, em vez de tentar afastar tudo, que tal apenas observar o que está passando pela sua cabeça? Isso pode ajudar a entender o que a mente está tentando dizer. Ah, e respirar fundo, sem pressa, faz um bem danado para acalmar.
Com o tempo, o silêncio pode até virar um momento de reflexão. Você começa a perceber que é nesse espaço que suas ideias mais claras e criativas surgem. Não precisa ser nada intenso, mas um espaço só seu, onde você pode se ouvir sem distrações.
Tudo o que você procura… talvez já esteja aí dentro. Mas pra ouvir, precisa parar.
"Ouça a voz que não usa palavras."
Deixe o silêncio ser a arte que você pratica. Mesmo que no começo ele doa. Mesmo que traga coisas que você não queria ver.
Porque é nele que mora o que você mais precisa: Você.
Engraçado, lendo esse texto fiquei fazendo reflexões sobre os momentos em que mais gosto de apreciar minha solitude, seja vendo uma paisagem em um lugar tranquilo ou estando meio a natureza. Em todas elas se resumem a estar em silêncio, seja do lugar ou comigo mesmo. A verdade é que a rotina é a bomba de informações que recebemos a todo o momento nos priva de ter esse momento de paz com nós mesmos. Talvez agora eu me pegue percebendo fazendo mais coisas no dia com som e consiga abrir mão delas aos poucos e as vezes. Obrigado por isso.
Muito interessante, passei por momentos muito parecidos de não conseguir dormir no escuro e nunca conseguir tirar os fones de ouvido nos momentos em que sabia que precisaria ficar a sós comigo. Parece que, num nível inconsciente, eu já sabia que estava fazendo aquilo pra evitar meus problemas, porque naquele período eu precisava ser “forte” e indiferente.
Pensar é existir e existir é sentir. É mais fácil só ouvir o barulho e não se permitir pensar em mais nada, assim você evita sentir o que não quer sentir. Acontece que sua mente continua lá, mesmo que distraída, as questões continuam ali.
A única forma de se curar parece mesmo ser sincero consigo, sentar no silêncio e aceitá-lo.
O silêncio é tipo um espelho que a gente evita olhar quando tá machucado pra não ver o tamanho do estrago.