Você já deve ter se pegado pensando na seguinte questão:
"Será que eu devo aproveitar o agora, ou usar o agora para me dedicar ao meu futuro?"
Essa dúvida, aparentemente simples, esconde uma angústia que acompanha muita gente — principalmente quando começamos a levar a vida mais a sério.
No fim da adolescência, lá pelos meus 16 ou 17 anos, comecei a pensar mais em mim. Queria fazer algo diferente, criar meus próprios projetos, construir algo legal com o que eu sabia. Mas, ao mesmo tempo, a vida social batia na porta. E sempre com força.
Me lembro bem de um sábado à tarde.
Eu estava no meu quarto, tentando começar um projeto novo que eu tinha idealizado durante a semana. Estava animado com a ideia. Tinha separado até uns vídeos pra estudar e anotar coisas.
Mas aí, meu celular vibra.
Era um grupo de amigos chamando pra sair. Ir no shopping, comer algo, dar risada, tirar umas fotos aleatórias. Nada demais, só mais um sábado com eles.
E foi aí que começou o conflito: “Se eu for, vou gastar tempo e dinheiro, e deixar de trabalhar no que eu quero construir.
Mas se eu ficar, será que realmente vou fazer alguma coisa produtiva… ou só vou acabar enrolando no YouTube e nem começar o projeto de verdade?”
Esse dilema me corroía. E o mais irônico é que, na maioria das vezes, eu escolhia uma opção… e mesmo assim me sentia mal.
As decisões, no fim, eram só o começo de tudo.
Paulo Coelho escreveu isso em O Alquimista — que ao decidir, a gente mergulha numa correnteza maior do que imagina. E é verdade. Nenhuma escolha era só sobre aquele sábado. Era sobre o tipo de pessoa que eu queria me tornar.
Se eu ficasse em casa, acabava desanimado, me frustrava por não produzir como eu queria, e via meus amigos se divertindo.
Se eu saísse, me pegava no meio da roda, rindo com eles, mas com aquele peso na mente: “Eu devia estar em casa fazendo algo mais útil.”
E o pior: as redes sociais não ajudavam. De um lado, vídeos dizendo:
—“Aproveite sua juventude! Saia, viva, conheça o mundo, gaste tempo com quem você ama!”
Do outro:
—“Enquanto você está se divertindo, alguém está estudando mais, construindo mais, e vai chegar mais longe.”
Duas frases, dois extremos. E eu no meio, perdido.
Pra ilustrar melhor, pensa comigo:
Imagina uma garota de 22 anos, acabou de sair da faculdade. Ela sempre foi boa aluna, dedicada, cheia de ideias. Conseguiu um estágio bacana, mas ainda não é o que ela sonha — quer criar algo próprio, começar um negócio, talvez fazer um curso fora.
Aí chega o fim de semana. Ela abre o Instagram. Vê um monte de gente da idade dela viajando, indo pra festas, postando stories no litoral, brindando, vivendo o que parece ser “a melhor fase da vida”.
Enquanto isso, ela está em casa com um caderno de anotações aberto, um café quase frio e o Google com 15 abas sobre como montar um projeto do zero.
Mas aí bate aquela dúvida: “Será que eu tô perdendo a vida enquanto tento construir uma?”
Ela fecha o caderno, dá play em um vídeo motivacional. Dois minutos depois, se sente culpada por não estar aproveitando a juventude. Mas quando pensa em sair e “aproveitar”, lembra que o dinheiro é contado e que tudo o que ela quer exige tempo, foco e paciência.
E nesse vai e vem, ela não avança nem relaxa. Só fica cansada de pensar tanto. Com isso, surgem os problemas: a ansiedade, a culpa, a incerteza, o medo.
E é justamente nessa tecla que devemos bater. Isso vai virando um ciclo, e aí você acaba se sentindo mal por qualquer escolha que tomar, seja ela boa ou ruim.
A ESCOLHA CERTA
O que me fez enxergar isso com mais clareza foi quando li um trecho de Albert Camus - O Mito de Sísifo.
Camus fala sobre o absurdo da vida, sobre como a existência não oferece garantias, nem respostas prontas. E mesmo assim — ou justamente por isso — a gente tem liberdade.
Ele diz que, diante desse “vazio”, o que nos resta é escolher. E viver de forma consciente. Isso me virou a chave porque percebi que eu estava buscando uma resposta absoluta. Queria que alguém me dissesse o que era certo: sair ou ficar, viver o agora ou planejar o futuro. Mas não existe isso. A responsabilidade é minha. A liberdade também.
E foi aí que eu cheguei na conclusão: não importa tanto qual escolha você faz, mas como você escolhe.
Quando você escolhe com presença, com intenção, você já está vivendo com sentido. A dúvida para de te engolir, porque você para de terceirizar a sua vida. Não se trata de viver 100% para o futuro e também não dá pra viver 100% para o agora.
O que funcionou pra mim foi encontrar o equilíbrio.
Comecei a separar dias e momentos pra cada coisa. Dias de projeto são dias de foco, mesmo que eu tenha que dizer “não” pra algumas saídas. E dias de sair são dias de curtir, sem peso, sem cobrança, só vivendo mesmo. E, curiosamente, uma coisa passou a alimentar a outra. Quando eu me divertia com presença, voltava com mais ânimo pra me dedicar. E quando eu trabalhava com foco, curtia a recompensa com mais leveza.
Às vezes, sair com os amigos transforma um dia comum em algo que você vai guardar pra sempre. Outras vezes, mergulhar num projeto com calma e atenção pode mudar completamente o rumo da sua vida. No fim, não importa tanto o que você escolhe — mas o quanto você está presente na escolha.
A Vida Não É Sobre Escolher Um Lado
Se você sente que está travado nesse dilema, tenta fazer o seguinte: pega um papel e escreve três coisas que você quer construir a longo prazo. Depois, pensa em como pode dar um passo mínimo em direção a isso ainda hoje. Não precisa ser perfeito, nem grandioso. Só precisa ser feito.
E ao mesmo tempo, anota também o que te faz se sentir vivo agora. O que te recarrega, o que te conecta com as pessoas e com você mesmo. Pode ser um passeio, uma conversa, uma pausa. Isso também é importante. Isso também constrói.
No fim das contas, ninguém tem todas as respostas. Mas quando a gente começa a viver com mais intenção, o conflito deixa de ser um fardo… e vira só mais uma parte da caminhada. Você pode sim construir um futuro incrível — sem precisar abrir mão de viver o agora. E pode viver o agora — sem abandonar quem você quer se tornar.
Não se prenda ao que ficou pra trás, nem ao que poderia ter sido. Apenas vá. E esteja inteiro onde estiver. É assim que a vida acontece de verdade.
Estava precisando ler isso. 🥹
A ideia de ter que escolher é apenas uma ilusão, nós apenas vivemos e morremos, viver de acordo com o seu próprio caráter e ideais autênticos é a verdadeira forma de se viver centrado e equilibrado. Dito isso o texto parece ser tirado de um livro 🥸🎦