Quando Ser Melhor Vira uma Armadilha
Até onde você iria para ser mais produtivo?
Ainda essa semana, me deparei com uma notícia que me travou por dentro. Um jovem de 22 anos morreu após levantar muito mais peso do que seu corpo suportava na academia. Segundo relatos, o esforço foi tão extremo que seu organismo entrou em colapso. O cérebro ficou tempo demais sem oxigênio. E quando isso acontece, o corpo simplesmente… desliga. — Ele não resistiu
Por mais impactante que pareça, esse tipo de caso tem se tornado cada vez mais comum. E, pra mim, isso diz muito sobre o tempo em que vivemos.
A cultura do "sempre mais"
Basta abrir o celular, e em poucos minutos, você vai esbarrar com vídeos, posts ou gurus repetindo a mesma coisa:
- Acorde mais cedo.
- Durma menos.
- Coma melhor.
- Puxe mais peso.
- Trabalhe dobrado.
- Estude até de madrugada.
- Nunca se conforme.
E à primeira vista, tudo isso parece ótimo. Quem não quer melhorar? Ser mais produtivo? Mais forte? Mais dedicado?
O problema é o tom, o ritmo, o excesso.
Quando essa busca por produtividade se torna uma obsessão, ela começa a perder o sentido. Um jovem, influenciado por essa cultura de superação a qualquer custo, pode muito bem não conhecer os riscos de ultrapassar seus próprios limites.
Pode não entender que o corpo, assim como a mente, precisa de uma pausa.
Dormir mal, viver estressado, adoecer — física e emocionalmente — tudo isso pode nascer dessa pressão constante de que precisamos “render”.
E o mais curioso?
É que a própria internet, que deveria informar, é o maior polo de desinformação sobre isso.
Provavelmente, esse garoto acreditava que quanto mais peso ele aguentasse, mais forte se tornaria. Que era só uma questão de força de vontade. Que não havia consequências para o esforço além do limite.
Mas havia, e acabou sendo fatal.
“Não é preguiça, é exaustão.
Não é falta de ambição, é cansaço.
A sociedade esqueceu que humanos não são máquinas.”
– Brianna Wiest.
A romantização do sofrimento
Eu mesmo já vi de perto essa mentalidade sendo empurrada goela abaixo.
Perfis motivacionais, canais dark, influenciadores que dizem com orgulho que correm até com os pés quebrados, que treinam doentes, que trabalham virando noites.
E tudo isso é vendido como uma inspiração.
Mas basta um pouco de distância pra perceber o absurdo.
A motivação, em si, é boa. Exercício é saúde, e superar desafios é valioso.
O problema é quando a gente esquece que tudo tem um tempo.
Que correr uma maratona exige preparação, que levantar peso exige técnica, cuidado e progressão.
Que evoluir não é atropelar o processo — mas sim respeitar ele
A previsão que nunca se concretizou
Trabalhar apenas 15 horas?
Em 1930, o economista John Maynard Keynes previu que, no futuro, trabalharíamos apenas 15 horas por semana.
Ele acreditava que os avanços tecnológicos e o aumento da produtividade nos dariam liberdade.
Mais tempo pra viver, pra criar, pra descansar.
Mas isso nunca aconteceu.
Ao invés de trabalhar menos, criamos uma cultura onde ser produtivo virou um requisito social.
Mesmo com toda a tecnologia facilitando nossa vida, a cobrança só aumentou.
A produtividade deixou de ser uma ferramenta e virou um medidor de valor.
— Você só será respeitado se ficar o dia todo, incluindo finais de semana, focado no seu grandioso projeto, sem pausas para descanso.
Até porque:
Quem descansa se sente preguiçoso.
Quem desacelera se sente ficando pra trás.
E o que era pra ser liberdade virou uma prisão disfarçada de "foco e disciplina".
Eu sinto isso frequentemente.
Tem dias em que fiz tudo o que precisava. Fui produtivo, cumpri tarefas, me esforcei.
Mas quando a noite chega e penso em assistir um filme, tirar um cochilo, jogar alguma coisa… me sinto mal, culpado.
Como se estivesse desperdiçando tempo, mesmo tendo feito o necessário.
Como se o lazer fosse um pecado, como se descansar fosse sinônimo de ser um fracassado.
O descanso também é produtividade
Só que a verdade é outra.
Lazer e descanso não são inimigos da produtividade — são partes dela.
Viver bem não é só fazer muito, mas fazer com qualidade, com saúde, com sentido.
Ter tempo pra respirar, pra se perder em algo que não traga resultado imediato, é o que mantém a nossa sanidade.
É nessa pausa que muita coisa se encaixa:
Que a criatividade volta, que a clareza surge, que o propósito renasce.
Use o tempo como aliado
Equilibrar produtividade com descanso é entender que o corpo e a mente não são máquinas.
Que parar também é avançar.
Que um cochilo pode ser tão estratégico quanto uma reunião.
Que ver um filme pode alimentar mais a criatividade do que um vídeo motivacional.
Seja produtivo, sim. Mas com consciência.
Use a produtividade como uma ferramenta, e não como uma prisão.
E às vezes, o que mais precisamos... é do vazio.
Um tempo sem metas, um ócio criativo.
Um momento de silêncio entre um pensamento e outro.
É ali que muitas respostas surgem, é ali que a alma volta a respirar.
Ser produtivo não é correr contra o tempo, é caminhar com ele.
Com equilíbrio, com significado, e coragem.
Isso é a mais pura verdade, eu mesma precisei que algo acontecesse comigo p eu “desacelerar” e entender que não é questão de quem faz mais, e sim quem faz tudo de uma forma segura e certa, a produtividade é boa(obv), mas quando é feita de forma correta, descansar é essencial, aproveitar e curtir os momentos tb, podemos sim ser produtivos, mas também temos que entender que sem o descanso, não conseguiremos chegar em nenhum lugar.
Que maravilhoso 🥹