Antigamente a Gente Era Mais Feliz e Nem Sabia?
Uma viagem pelas memórias da infância.
A nostalgia é algo realmente estranho. Por mais que as minhas memórias sejam boas, sempre que me permito lembrar, vem aquela tristeza doce, aquele aperto discreto no peito. Como se algo dentro de nós sussurrasse:
“Esse tempo não volta mais… que saudades.”
E é sempre uma saudade boa. Daqueles momentos que, lá no fundo, sabíamos serem especiais, mas não sabíamos que estavam marcando a nossa história. Saudade das pessoas, dos risos, das alegrias pequenas que faziam tudo parecer tão grandioso.
Crescer é assistir a magia sumir, aos poucos
Lembro bem da minha família reunida. Festas de Natal, Ano Novo, aniversários… Nada passava batido. Sempre tinha um churrasco, eu correndo pra lá e pra cá, e as músicas antigas estourando nas caixas de som. Tudo parecia tão mágico, tão vivo, tão… real.
Hoje, meus Natais são mais íntimos. No ano passado, passei só com minha mãe e minha irmã. E não que isso seja ruim — pelo contrário, é bom estar com quem amamos. Mas o que faz falta… é aquela energia de antigamente. Aquela bagunça cheia de vida, risos e abraços.
E os aniversários? Hoje, parece que basta uma mensagem no WhatsApp e um story no Instagram. Pronto. Parabéns entregues, momento arquivado. Onde está a magia de antes?
Ontem éramos eu e meus primos jogando bola até tarde, no meio da rua. Hoje, eu sou o cara que passa de carro, e os moleques tem que parar o jogo.
Crescemos querendo virar adultos para finalmente sermos livres. Viramos adultos e, paradoxalmente, queremos voltar aos tempos de criança para realmente sermos livres.
"Como eu torci para que os dias passassem, e esqueci que eles eram toda a minha vida."
A leveza da infância era quase invisível na época, mas hoje… é o que mais faz falta. Quando vejo crianças brincando, rindo alto, correndo, fazendo barulho, eu não penso em silêncio ou em ordem. Eu penso:
"Olha como elas estão felizes, sem nem perceber o quanto isso é raro."
A maldade do mundo ainda não tocou nelas. Elas vivem com uma coragem inconsciente. Acreditam em tudo, sonham sem medo, se encantam com o que a gente já nem vê mais.
E às vezes me pergunto: O que a criança que eu fui diria se me encontrasse hoje?
Será que ela ia me reconhecer? Ou ia perguntar por que parei de imaginar, de inventar mundos, de sonhar alto mesmo sabendo que podia dar errado? Será que ela ia entender por que comecei a levar tudo tão a sério? Como se a vida fosse só pagar boleto e cumprir metas?
Talvez ela só perguntasse:
"Por que você me trancou aí dentro e jogou a chave fora?"
E o mais curioso é que… eu sei que ela ainda tá aqui. Só que quieta. Esperando uma chance de sair. Não para bagunçar tudo, mas para lembrar o que realmente importa.
Talvez, se a gente ouvisse mais essa parte da gente, a vida ficasse menos automática. Menos pesada. Mais nossa.
Como escreveu Marisa Munaretto Amaral:
"Bom mesmo era sentar na calçada e olhar para o céu, imaginando os monstros que as nuvens formavam... bom mesmo era rir de tudo sem grandes preocupações, com a inocência que só uma criança traz no olhar."
Mas o que era diferente? A ciência por trás da nostalgia
Segundo a neurociência, a nostalgia, aquele sentimento de saudade boa, está ligada a processos cerebrais profundos, envolvendo memória e emoção. Quando você lembra dos momentos felizes da infância, como festas em família ou brincadeiras com os primos, seu cérebro ativa áreas como o hipocampo, responsável pelas memórias, e o sistema límbico, que lida com as emoções. Isso cria uma sensação de bem-estar, graças à liberação de dopamina, o neurotransmissor do prazer.
O problema é que, à medida que envelhecemos, o cérebro se adapta às rotinas e responsabilidades. A dopamina, que antes era liberada com a diversão e exploração, diminui. A vida adulta traz mais cobranças, menos diversão, e o presente parece menos excitante do que os tempos de infância. O córtex pré-frontal, que ajuda a tomar decisões, começa a priorizar tarefas, enquanto o cortisol, o hormônio do estresse, começa a dominar. Resumindo: A pressão aumenta, e as coisas simples perdem seu sabor.
Na infância, tudo era novo, e por isso tudo parecia grandioso. A gente não vivia correndo atrás do amanhã. Só queria viver o agora — e isso, sem saber, era viver.
A gente não achava que precisava fazer tudo dar certo. A gente só fazia.
E talvez, seja isso que a nostalgia tente dizer:
— Não é que a felicidade ficou no passado. É que a gente parou de enxergar com o mesmo coração.
A nostalgia, por mais que traga aquele sentimento doce e amargo de saudade, pode ser mais do que apenas uma lembrança do que passou. Se soubermos usá-la, ela pode se tornar uma força poderosa no presente.
Primeiro, pense naquelas memórias boas, nos momentos felizes da infância. Ao trazê-los à tona, é como uma onda de gratidão. A nostalgia nos lembra do que realmente importa na vida — as pessoas que amamos, os momentos que nos fizeram sentir vivos, a simplicidade do prazer. E, quando nos conectamos com essa gratidão, o mundo ao nosso redor parece um pouco mais claro, mais leve.
A nostalgia também pode nos conectar com nossa criatividade e espontaneidade. Lembra como, quando éramos crianças, tudo parecia possível? Não havia limites para os nossos sonhos. A nostalgia pode ser a chave para resgatar esse lado criativo, essa liberdade de criar sem medo. Quando você olhar para o passado, pense na liberdade de criação que você tinha. Talvez, essa chama ainda possa acender algo novo em você hoje.
Quando eu era criança, passava horas mergulhado no mundo dos blocos de montar. Não era apenas uma brincadeira — era como se, peça por peça, eu estivesse tentando entender o mundo e construir o meu lugar dentro dele.
Hoje, olhando para trás, percebo que ali nasceu minha paixão por criar. No silêncio da infância, enquanto encaixava formas e imaginava possibilidades, algo dentro de mim já apontava para o que eu seria. E agora, depois de tanto tempo tentando me encaixar no que esperavam de mim, estou, enfim, voltando a ser quem eu era de verdade: alguém que cria, que imagina, que transforma o comum em algo novo.
Carl Jung (psicólogo e autor)
“A criação de algo novo não é realizada pelo intelecto, mas pelo instinto de brincar, que age a partir de uma necessidade interior.”
A nostalgia, quando vista dessa forma, não precisa ser uma prisão do passado. Ela pode ser uma ponte, conectando o que fomos com o que podemos ser. Ao dar espaço para ela, encontramos um equilíbrio entre o que vivemos e o que ainda podemos construir — um presente mais leve, mais verdadeiro, mais cheio de sentido.
E talvez, ao trazer de volta essa criança que mora dentro de nós, a vida se torne um pouco mais colorida, como naquela época em que tudo parecia mais simples, e ao mesmo tempo mais mágico.
“O melhor do mundo são as crianças, porque elas sabem tudo sem saber nada.”
Que texto incrível! Já salvei para voltar a ler sempre quando tiver pensando em procastinar as coisas. Temos tanto para viver, conhecer e aprender. Acabamos deixando os sonhos de lado por medo. Que possamos deixar a nossa criança interior florescer novamente.
Não consegui de fato me identificar, mas eu amei o que você escreveu! É muito bonito e muito real! 💯👏🏻✨